É difícil encontrar uma tradução deste termo para o português. Basicamente, fidget diz respeito a uma estimulação sensorial rítmica: é uma forma natural que o nosso corpo encontra de ativar o cérebro, quando este está “sub-estimulado”, de modo a facilitar a concentração da atenção.
Bater com as pontas dos dedos na mesa, mexer os pés ou pernas de forma rítmica, cantarolar uma canção, assobiar, desviar o olhar para outras coisas, rabiscar, ouvir música, andar de um lado para o outro, são algumas das formas de procurar algum tipo de estímulo que nos ajude a manter a atenção.
O tipo de estratégia sensorial mais poderosa envolve o movimento, associando os estímulos propriocetivo e vestibular. Estas ações rítmicas e repetitivas vão desde movimentos mais amplos e globais, como correr ou caminhar, até ao movimento mais fino e quase impercetível. Também a boca pode produzir movimentos rítmicos e repetitivos, sendo muitas vezes este o motivo de comportamentos como morder ou colocar objetos na boca, roer as unhas, trincar os lábios ou mascar pastilha elástica.
Quando procuramos este tipo de estimulação com o objetivo de focarmos a atenção, o fidget resulta numa modulação a curto-prazo do sistema neurológico que se encontra desregulado. Assim, o facto de às vezes não conseguimos manter a atenção, durante uma aula por exemplo, acontece porque o nosso processamento auditivo não está a conseguir manter-nos suficientemente estimulados, independentemente da importância do assunto abordado.
As crianças, ao frequentarem uma sala de aula convencional, estão limitadas relativamente ao envolvimento em atividade de movimento e à liberdade de escolherem fazer aquilo que querem, e que sensorialmente necessitam. Portanto, é natural que os professores relatem com frequência, dificuldades ao nível da atenção na sala de aula e comportamentos de agitação motora.
É muito difícil para a maioria das crianças, estarem atentas durante um dia inteiro de aulas, mas para algumas é ainda pior, principalmente se existirem Disfunções de Integração Sensorial, Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem. Os próprios processos de aprendizagem por si só já estão muitas vezes comprometidos nestes casos. Se a isto juntarmos o facto de terem que se sentar quietas, tudo fica ainda mais difícil e desafiante, para uma criança que não consegue filtrar o barulho, ou a quem as próprias roupas incomodam, ou que têm dificuldades em copiar do quadro ou dificuldades de motricidade fina
O fidget surge aqui como uma estratégia de autorregulação, de diminuir a agitação motora e aumentar a atenção nas tarefas. As crianças que se distraem constantemente, que não conseguem sentar-se quietas ou que são mais stressadas e ansiosas, podem beneficiar de certos materiais fidget. Qualquer tipo de atividade ou tarefa que exija movimento, e que possam ser feitas enquanto a criança continua sentada na cadeira, é importante para “organizar” o cérebro.
O que se observa muitas vezes, são crianças que, em contexto de sala de aula, não param de mexer nos materiais que têm disponíveis à sua frente: lápis, canetas, borrachas, dobram as folhas dos cadernos, roem os materiais, mechem nos materiais do colega do lado, etc, estando a sua mesa em constante estado de desorganização.
Um material fidget deve ser discreto e silencioso para que não distraia as outras crianças, e deve fornecer determinados estímulos sensoriais de uma forma, o menos perturbadora possível. São muitas as soluções possíveis, mas, uma grande categoria destas soluções envolve algum tipo de material que possa ser manipulado de forma discreta com as mãos.
Direcionando tudo isto para uma estimulação tátil, as mãos podem ser uma excelente forma de regulação da atenção em determinados ambientes. Se pensarmos na representação do Homúnculo de Penfield, percebemos que uma das maiores áreas representadas diz respeito às mãos (tal como a boca).
De uma perspetiva sensorial, dado o quão dominante é a representação das mãos em relação ao resto do corpo, faz sentido que as mãos, transmitindo uma maior quantidade de estímulos sensoriais, possam ser uma forma efetiva de regulação do sistema nevoso.
Baseado em:
Rotz, R., & Wright, S. (2005). Fidget to Focus: Outwit Your Boredom: Sensory Strategies for Living with ADD. Bloomington: iUniverse.